segunda-feira, 9 de março de 2009

Em reunião, diretoria da UNE define pauta da Jornada de Lutas 2009

Também foram aprovadas a prestação de contas 2008, o orçamento 2009 e convocada a última reunião de diretoria desta gestão
Reunidos na tarde deste sábado (7) na sede das entidades estudantis de São Paulo, diretores da UNE definiram a pauta da Jornada de Lutas 2009, que acontecerá em o todo País entre os dias 30 de março a 3 de abril.
Este ano, o tema da tradicional série de manifestações convocadas pela UNE em defesa da educação que acontece duas vezes por ano é: "Essa crise não é nossa. Queremos mais conquistas para a Educação".
Sob este mote, estudantes de todo o Brasil sairão às ruas por mais investimento em Educação, por uma nova legislação para a meia-entrada, sem restrições de direitos; pela manutenção da qualidade de ensino nas instituições particulares de ensino superior, em defesa da intervenção do Estado para evitar abusos nos reajustes de mensalidade, pelo fim do vestibular e a aprovação do Projeto de Lei de Reserva de Vagas nas universidades públicas.
A reunião de diretoria também aprovou a prestação de contas da entidade de 2008 e o orçamento para este ano. Os documentos já estão disponíveis aqui no EstudanteNet, na sessão Transparência 100%. Clique aqui e confira.
57º CONEGO Conselho Nacional de Entidades Gerais (CONEG) já tem data definida. O fórum acontecerá nos dias 21 e 22 de março em São Paulo. Os espaços para alojamento e informações sobre alimentação serão divulgados em breve.
O CONEG é a instância deliberativa da UNE, onde têm direito a voz e voto as entidades representativas de Instituições de Ensino Superior (IES) de todos os Estados e do Distrito Federal (DCEs, UEEs e entidades municipais) e também, das Executivas e Federações Nacionais de Curso, devidamente credenciadas.
Para se credenciar como delegado/a, o/a representante da Entidade Geral deverá apresentar no dia e local de recolhimento do Credenciamento: Ata oficial, fornecida pela UNE, para indicação do/a delegado/a e seu/sua suplente, com o quorum mínimo de 50% (cinqüenta por cento) mais 1 (um) dos/as diretores da Entidade que constarem registrados/as na Ata de Posse. Caso tenha havido substituição de membros da diretoria da entidade, será necessário apresentar a Ata de Alteração da Diretoria e o Estatuto da Entidade. Clique aqui para fazer o download da ata do 57º CONEG.
Última reunião da gestãoPor fim, o encontro de dirigentes da UNE convocou a última reunião de diretoria desta gestão para o dia 21 de março. Neste momento, eles farão um balanço das ações no último ano e meio e definirão as ações da entidade até julho, mês em que acontece o 51º Congresso da UNE que elege novo(a) presidente e nova diretoria.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Balanço do Fórum e do outro mundo possível


Os que acreditam que o fim do Fórum Social Mundial é o intercâmbio de experiências devem estar contentes. Para os que chegaram a Belém angustiados com a necessidade de respostas urgentes aos grandes problemas que o mundo enfrenta, ficou a frustração, o sentimento de que a forma atual do FSM está esgotada, que se o FSM não quer se diluir na intranscendência, tem que mudar de forma e passar a direção para os movimentos sociais.
Por Emir Sader

Data: 04/02/2009
Um balanço do FSM de Belém não deve ser feito em função de si mesmo. Ele não nasceu como um fim em si mesmo, mas como um instrumento de luta para a construção do "outro mundo possível". Nesse sentido, qual o balanço que pode ser feito do FSM de Belém, do ponto de vista da construção desse "outro mundo", que não é outro senão o de superação do neoliberalismo, de um mundo pósneoliberal?Duas fotos são significativas dos dilemas do FSM: uma, a dos 5 presidentes que compareceram ao FSM – Evo, Rafael Correa, Hugo Chavez, Lugo e Lula -, de mãos dadas no alto; a outra, a fria e burocrática de representantes de ONGs brasileiras em entrevista anunciando o FSM. Na primeira, governos que, em distintos níveis, colocam em prática políticas que identificaram, desde o seu nascimento, o FSM: a Alba, o Banco do Sul, a prioridade das políticas sociais, a regulamentação da circulação do capital financeiro, a Operação Milagre, as campanhas que terminaram com analfabetismo na Venezuela e na Bolívia, a formação das primeiras gerações de médicos pobres no continente, pelas Escolas Latinoamericanas de Medicina, a Unasul, o Conselho Sulamericano de Segurança, o gasoduto continental, a Telesul – entre outras. A cara nova e vitoriosa do FSM, nos avanços da construção do posneoliberalismo na América Latina.Na outra, ONGs, entidades cuja natureza é fortemente questionada, pelo seu caráter ambíguo de "não-governamentais" , pelo caráter nem sempre transparente dos seus financiamentos, das suas "parcerias", dos mecanismos de ingresso e de escolha dos seus dirigentes – a ponto que, em países como a Bolivia e a Venezuela, entre outros, as ONGs se agrupam majoritamente na oposição de direita aos governos. Sua própria atuação no espaço que definem como "sociedade civil" só aumenta essas ambigüidades. Entidades que tiveram um papel importante no inicio do FSM, mas que monopolizaram sua direção, constituindo- se, de forma totalmente não democrática, como maioria no Secretariado original, deixando os movimentos sociais, amplamente representativos, como a CUT e o MST, em minoria.A partir do momento em que a luta antineoliberal passou de sua fase defensiva à de disputa de hegemonia e construção de alternativas de governo, o FSM passou enfrentar o desafio de se manter ainda sob a direção de ONGs ou passar finalmente ao protagonismo dos movimentos sociais. No FSM de Belém tivemos a primeira alternativa, no momento daquela fria e burocrática entrevista coletiva das ONGs. E tivemos, como contrapartida, sua formidável cara real, com os povos indígenas e o Forum PanAmazonico, com os movimentos camponeses e a Via Campesina, com os sindicatos e o Mundo do Trabalho, com os movimentos feministas e a Marcha Mundial das Mulheres, os movimentos negros, os movimentos de estudantes, os de jovens – com estes confirmando que são a grande maioria dos protagonistas do FSM.O FSM transcorreu entre os dois, entre a riqueza, a diversidade e a liberdade dos seus espaços de debate, e as marcas das ONGS, refletidas na atomização absoluta dos temas, na inexistência de prioridades – terra, água, energia, regulação do capital financeiro, guerra e paz, papel do Estado, democratização da mídia, por exemplo. À questão: o que o FSM tem a dizer e a propor de alternativas diante da crise econômica global e diante dos epicentros de guerra – Palestina, Iraque, Afeganistão, Colômbia -, que propostas de construção de um modelo superados do neoliberalismo e de alternativas políticas e de paz para os conflitos, a resposta é um grande silêncio. Houve várias mesas sobre a crise, nem sequer articuladas entre si. As atividades, "autogestionadas" , significam que os que detêm recursos – ONGs normalmente entre eles – conseguem programar suas atividades, enquanto os movimentos sociais se vêem tolhidos de fazer na dimensão que poderiam fazê-lo, para projetar-se definitivamente como os protagonistas fundamentais do FSM.Para os que acreditam que o fim do FSM é o intercâmbio de experiências, devem estar contentes. Para os que chegaram angustiados com a necessidade de respostas urgentes aos grandes problemas que o mundo enfrenta, a frustração, o sentimento de que a forma atual do FSM está esgotada, que se o FSM não quer se diluir na intranscendência, tem que mudar de forma e passar a direção para os movimentos sociais.Surpreendente a quantidade e a diversidade de origem dos participantes, notáveis as participações dos movimentos indígenas e dos jovens, em particular, momento mais importante do FSM a presença dos presidentes – cujas políticas deveriam ter sido objeto de exposição e debate com os movimentos sociais de maneira muito mais ampla e profunda. Triste que todo esse caudal não fosse ouvido, nem sequer por internet, a respeito do próprio FSM, das duas formas de funcionamento, da sua continuidade – outro sintoma do envelhecimento das conduções burocráticas dadas ao FSM. No dia seguinte ao final do FSM, reuniu-se o Conselho Internacional, de maneira fria e desconectada do que foi efetivamente o FSM, em que cada um – seja desconhecida ONG ou importante movimento social – tinha direito a dois minutos para intervir.O "Outro mundo possível" vai bem, obrigado. Enfrenta enormes desafios diante dos efeitos da crise, gestada no centro do capitalismo e para a qual se defendem bastante melhor os que participam dos processos de integração regional do que os que assinaram Tratados de Livre Comercio. Enfrentam a hegemonia do capital financeiro, a reorganização da direita na região, tendo no monopólio da mídia privada sua direção política e ideológica. Mas avança e deve-se se estender, sempre na América Latina, para El Salvado, com a provável vitória de Mauricio Funes, candidato favorito, da Frente Farabundo Marti à presidência, em 15 de março próximo.Já não se pode dizer o mesmo do FSM, que parece girar em falso, não se colocar à altura da construção das alternativas com que se enfrentam governos latinoamericanos e da luta de outras forças para passar da resistência à disputa hegemônica. Para isso as ONGs e seus representantes tem, definitivamente, que passar a um papel menos protagônico no FSM, deixando que os movimentos sociais dêem e tônica. Que nunca mais existam conferências como aquela de Belém, que nunca mais ONGs se pronunciem em nome do FSM, que os movimentos sociais – trata-se do Forum Social Mundial – assumam a direção formal e real do FSM, para que a luta antineoliberal trilhe os caminhos da luta efetiva por "outro mundo possivel" – de que a América Latina é o berço privilegiado.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Chamado aos/às Estudantes do curso de Ciências Sociais e da UFPB

O Centro acadêmico de Ciências Sociais vem por meio deste comunicado geral aos/às estudantes da UFPB, e em especial do Curso de Ciências Sociais, para discutir sobre o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) das Carteiras de Estudante de 2009 e o Processo Eleitoral do DCE da UFPB.

O TAC foi assinado por um presidente de Comissão Gestora de caráter ilegítimo, definido por um Conselho de Entidades de Base (COEBE) fraudado e golpista. Neste Termo fixou-se o preço das carteiras de estudante a R$ 8 na 1º remessa e R$ 10 da 2º remessa em diante, além de ignorar o fato de informar aos/às estudantes sobre a contribuição voluntária inserida no preço das carteiras, que pode ser retirada pelo/a estudante num prazo de 10 dias após a chegada da carteira.

Não contentes com isso, ainda aprovaram no mesmo COEBE um calendário eleitoral onde os dias das eleições são justamente entre os dias dos maiores blocos do Folia de Rua (Virgens e Muriçocas), uma segunda e terça.

Diante disso, inflamamos o sentimento de revolta e indignação nos corações de nossos companheiros/as estudantes e os conclamamos a uma reunião

HOJE

LOCAL: AUDITÓRIO DA BIOLOGIA, CCEN (POR TRÁS DO BANCO REAL)

HORÁRIO: 16H


COMPAREÇAM!

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Sobre Movimentos Sociais e Educação

Assentados colam grau em Curso Superior de Ciências Agrárias



A noite da última sexta-feira, 28, ficará para sempre na memória de 42 assentados e assentadas da reforma agrária da Paraíba e de outros 12 estados brasileiros que colaram grau no Curso de Graduação em Ciências Agrárias com Licenciatura Plena. O curso foi promovido pela Superintendência Regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) na Paraíba através do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) em parceira com a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e a Via Campesina. A solenidade de Colação de Grau foi realizada no Auditório Central do Campus III da UFPB, em Bananeiras, com a participarão de representantes da Reitoria da UFPB, coordenadores do Curso de Graduação em Ciências Agrárias, o chefe da Divisão de Desenvolvimento de Projetos de Assentamento do Incra na Paraíba, Abdon Bandeira André, servidores da equipe do Pronera e representantes da Via Campesina.

A Colação de Grau foi comemorada por formandos e convidados com um churrasco e forró pé-de-serra no Portal do Forró, no município de Solânea.
Além dos alunos que moram em assentamentos da Paraíba, esta primeira turma do curso, que teve duração de quatro anos, foi composta por assentados dos estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe, Maranhão, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Tocantins, São Paulo, Paraná e Minas Gerais.
De acordo a asseguradora do Pronera na Paraíba, Ângela Maria Duarte, o Incra investiu recursos na ordem de R$ 778 mil para a formação desta primeira turma.

A Paraíba é o estado nordestino que oferece mais cursos de nível superior aos assentados. Além desta primeira graduação em Ciências Agrárias, promove o curso, pioneiro no Brasil, de Licenciatura em História para Educadores da Reforma Agrária. A primeira turma de 58 alunos do curso de História concluiu a graduação em junho de 2008. A segunda turma deste curso e a primeira de Pedagogia, com 60 vagas para alunos do Nordeste, tiveram aulas iniciadas em 2008.

Alunos mais críticos

O coordenador do convênio entre Incra e UFPB para a realização do Curso de Graduação em Ciências Agrárias com Licenciatura Plena, o professor José Ribeiro de Moraes Filho, destacou a diferença entre os alunos oriundos de movimentos sociais do campo e os alunos de cursos regulares.

“Os alunos dos movimentos sociais são muito mais críticos e possuem uma preparação política maior, por isto têm grande capacidade de fazer inter-relações entre as disciplinas”, afirmou.
Segundo o professor, lecionar para uma turma diferenciada foi uma experiência muito rica para a grande maioria dos professores. “Uma nova proposta de educação não pode continuar com pensamentos arcaicos. Isto forçou a atualização dos professores, que tiveram que se aprofundar mais sobre práticas alternativas na agricultura. Agora eles estão mais abertos ao novo”, concluiu José Ribeiro.

Camponês e “doutor

“Vou ser doutor sem deixar de ser camponês”. A frase é do assentado paraibano Gilmar Felipe Vicente, 28 anos, do assentamento Zumbi dos Palmares, que comemorou a conquista ao lado da esposa e do filho de um ano. Dois dos cinco irmãos de Gilmar também concluíram cursos técnicos promovidos pelo Pronera nas áreas de Agricultura e Magistério.
Aluno da primeira turma do curso técnico em Magistério promovido pelo Pronera em parceria com a UFPB (1999-2002), Gilmar trabalhava como voluntário no processo de formação de educadores de escolas de Ensino Fundamental de vários assentamentos das regiões da Várzea, Borborema e Cariri paraibanos. Embora sonhasse em fazer um curso superior de Pedagogia – que não era oferecido pelo Pronera no ano em que ingressou no curso de Ciências Agrárias – não se arrependeu da escolha.

“Não vim buscar diploma, vim buscar conhecimento. Me apaixonei pelo curso porque ele me deu novas visões sobre o processo produtivo, a situação social e econômica dos assentamentos. O confronto entre a realidade que a gente vive no dia-a-dia e o conhecimento científico ensina demais”, afirmou.

Agora, Gilmar quer tentar uma vaga na especialização em Economia Política que será promovida pelo Pronera em parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) no próximo ano, mas não esquece o sonho de continuar os estudos na área de Pedagogia. “Pretendo também concorrer ao mestrado em Educação Popular promovido pela UFPB”.

Amadurecimento

Para Poliane Oliveira Dutra, 24 anos, ex-aluna e monitora das escolas-famílias agrícolas no município de Barra de São Francisco, no Espírito Santo, o curso de Ciências Agrárias mudou sua vida. “É a realização de um sonho não só meu, mas da minha família, que não tinha ninguém com curso superior. Sempre quis estudar, sempre fui dedicada, mas sabia das dificuldades de passar no vestibular regular. Através do Pronera tive acesso ao conhecimento científico e pude crescer culturalmente porque tive oportunidade de estudar com pessoas de vários estados, com realidades até mais difíceis do que a minha”, disse.

Os desafios começaram com a distância da sala de aula, em Bananeiras (PB), do município onde Poliane mora com a família, no Espírito Santo. “Foi a primeira vez que passei muito tempo fora de casa. Foi um processo de amadurecimento muito grande”, contou, acrescentando que, assim como o colega de turma Oziel dos Reis, ainda não pôde dividir com a família a conquista do diploma de terceiro grau.

Agora os planos de Poliane incluem a especialização em Economia Política que também será promovida pelo Pronera em parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

Aproveitando oportunidades

Oziel Fernando dos Reis, 26 anos, assentado no assentamento Nova do Pontal, no município de Rosana, na emblemática área do Pontal do Paranapanema – como é conhecido o extremo oeste do Estado de São Paulo, marcado por inúmeros conflitos agrários – já havia concluído o curso técnico em agropecuária e trabalhava em uma cooperativa ligada ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) quando surgiu a oportunidade de ingressar no curso de Ciência Agrárias.

“Esse curso, com o regime de alternância, foi a minha oportunidade de estudar porque para mim seria muito difícil passar no vestibular e assistir aulas todos os dias, sem tempo para retornar para meu lote no assentamento”, disse.

O futuro reserva mais estudos para Oziel, que já está inscrito em uma especialização na área de Educação do Campo que será promovida pelo Pronera em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em 2009.

“Meu pai sempre me falou para aproveitar as oportunidades para estudar, mas nem ele, nem minha mãe puderam me ver colando grau porque a distância é grande. Mas sei que eles estão muito orgulhosos da minha vitória”, afirmou Oziel dos Reis.

Metodologia diferenciada

O ingresso nos cursos do Pronera acontece através de um processo seletivo diferenciado, semelhante ao vestibular, mas destinado apenas a assentados da reforma agrária e acampados.
A pedagogia utilizada nos cursos também é diferenciada e é conhecida como Pedagogia da Alternância, onde a carga horária dos cursos é dividida em tempo escola (presencial = 70%) e tempo comunidade (nos assentamentos = 30%), proporcionando a oportunidade dos assentados estudarem e também produzirem, contribuindo para o desenvolvimento sustentável das áreas de assentamento da reforma agrária.

O Pronera

Na Paraíba, de 1999 a 2008, o Pronera já investiu mais de R$11,7 milhões na implantação de 21 cursos que beneficiaram 6.871 alunos, sendo três Cursos de Alfabetização de Jovens e Adultos (Eja); dois Cursos de Escolarização (1º segmento do ensino fundamental); oito Cursos Técnico-Profissionalizantes em Agropecuária com habilitações em Agricultura, Zootecnia e Agroindústria; um Curso Técnico de Enfermagem; dois Cursos Normais de Nível Médio (Magistério); dois Cursos de Licenciatura em História; um Curso de Licenciatura em Ciências Agrárias; um Curso de Licenciatura em Pedagogia e um Curso de Especialização em Residência Agrária.
Em todo o Brasil o Programa já formou cerca de 470 mil alunos, tornando-se um relevante instrumento de democratização do conhecimento e de promoção do desenvolvimento sustentável.

O Pronera foi criado em 16 de Abril de 1998 e é um Programa de Educação do Campo voltado especificamente para trabalhadores das áreas de reforma agrária executado pelo Incra, no Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), em parceria com diferentes esferas de governo, Instituições de Ensino, movimentos sociais e organizações sociais/sindicais.

“Com 10 anos de criação, o Pronera é um importante instrumento de democratização do conhecimento no campo, já que propõe e apóia projetos de escolarização formal em todos os níveis, desde a Alfabetização e Escolarização de Jovens e Adultos, passando pelo Ensino Técnico de nível Médio até o Ensino Superior e a Pós-Graduação. Para a maioria dos alunos é a única oportunidade de conquistar um diploma de nível técnico e superior”, afirmou Ângela Maria Duarte, asseguradora do Programa na Paraíba.

Os principais parceiros do Pronera na Paraíba são as Instituições Públicas de Ensino: a UFPB, a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e a Escola Agrotécnica Federal de Sousa (EAFS).

Fonte: Paraiba.com.br

terça-feira, 11 de novembro de 2008

"O MST recriou a escola"

Entrevista concedida por Paulo Arantes (USP) para ADverso (ADUFRGS)

Sistema de educação paralelo, como se costuma definir as escolas itinerantes do MST, é um modo de dizer diante da "falta de melhor denominação para a concepção sistêmica de todo o processo educativo que singulariza o MST". Para o filósofo e professor aposentado da USP, Paulo Arantes, "sem terra, e tudo o mais que se refere aos mínimos de uma vida civilizada, o MST foi reinventando um novo sujeito, que acabou recriando também a Escola". Uma escola para formar o trabalhador enquanto agente de sua própria emancipação, "escapando da condição de máquina de produzir mais valia neste grande moinho de gastar gente, como Darcy Ribeiro definiu o Brasil". A educação popular, que tem como ícone a Escola Nacional Florestan Fernandes, a perda de rumo da esquerda intelectual brasileira e o ensino de filosofia no País estão contemplados nesta análise do autor de uma respeitável obra, que inclui "Zero à Esquerda", "O Fio da Meada" e o recente "Extinção", entre outros.

Por Maricélia Pinheiro

ADverso - O encontro histórico da USP e do MST teria se dado na figura da Escola Nacional Florestan Fernandes. Por que o senhor se refere a esse fato como "confluência tardia" e "desencontro histórico"?

Paulo Arantes - Se havia um encontro marcado, a USP não compareceu. Seria melhor especificar de saída o que estamos entendendo por USP. Seu embrião, em 1934, foi a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, a agregação original de saberes que melhor encarnava o espírito da instituição universitária, uma real novidade entre nós. Refiro-me ao corte europeu de sua concepção, reunindo ensino e pesquisa numa ambiência de livre exame, ciência pura e desinteressada. O conjunto impregnado por um sentimento novo de relevância cultural e, por extensão, social. Afinal, era a década de 30, quando o País parecia estar de cabeça para baixo. A oligarquia paulista acabou gerando um ambiente "formador" desta mesma elite pela cristalização de um pensamento radical de classe média. Como Antonio Candido chamou aquela primeira visão não-aristocrática do Brasil, baseada no estudo da recém descoberta "realidade" do País. Clima estudioso, animado por uma energia política que não precisava ser propriamente revolucionária para encaminhar num sentido progressista aqueles novos técnicos de sua própria inteligência - era assim que os via Mário de Andrade. Desse novo rumo brotou o encontro da ciência social com as classes populares, não só as que estavam entrando em cena, como as que a modernização deixara à beira do caminho. Quando o MST deu o nome de Florestan à sua Escola Nacional, é bem possível que uma espécie de sexto sentido histórico o tenha guiado até àquele vínculo entre estudo exigente e empatia com os grupos oprimidos e marginalizados. Certamente no intuito de reativá-lo num patamar à altura dos novos tempos. Mas nossa faculdade foi ficando para trás: quanto mais se especializava e profissionalizava no sentido de mera prestadora de serviços culturais, a adversidade social crescente conferia outra dimensão de combate e pensamento a um movimento social do porte do MST. O reencontro anunciado pela escolha do nome revelou-se muito mais simbólico do que efetivo, muito mais uma evocação de um elo perdido do que o fio de uma meada enfim retomada. A tradição crítica iniciada nos anos 30 se encerrara de vez, pouco antes do seu mais legítimo destinatário entrar em campo em meados dos anos 80, o MST. Enquanto um crescia, a outra definhava. Esse desencontro verdadeiramente histórico é fruto de uma construção nacional que não aconteceu. Como um sistema intelectual- popular não se formou, as participações individuais, mesmo as mais empenhadas, regrediram à condição de manifestações avulsas de compromisso pessoal.

A - O que diferencia o MST dos demais movimentos sociais brasileiros? E que sistema de educação paralelo é esse criado por eles?

PA - Paralelo é modo de dizer, na falta de melhor denominação para a concepção sistêmica de todo o processo educativo que singulariza o MST. Não conheço nada que sequer se aproxime de toda a elaboração do movimento a respeito. Pelo menos desde a ruptura popular que o nome de Paulo Freire simboliza não se via tamanha centralidade da Pedagogia, em seu sentido transformador amplo, na formulação e condução de uma política de emancipação social através da luta pela terra. A educação como "formação" (Bildung) - na acepção mais substantiva do termo - acompanha em profundidade cada uma das etapas de um dos lemas estratégicos do Movimento: ocupar, produzir, resistir. A impressão de "sistema paralelo de educação", do ensino fundamental até os convênios com as universidades menos preconceituosas, talvez advenha da percepção de que tudo se passa como se, nesta centralidade da instrução na luta de uma classe despossuída, encontrássemos a prefiguração de uma sociedade nacional e popular que ainda relutasse em abandonar o horizonte do possível. Daí outra particularidade deste movimento sem igual: o único a incorporar metodicamente ao seu sistema de referências os grandes marcos de reflexão que delimitam a tradição crítica brasileira. De Caio Prado Júnior a Celso Furtado, cuja originalidade até hoje faz pensar, só o MST soube reconhecer. Ao contrário dos demais coletivos que pontuaram a história política do País pela combinação não prevista de capitalismo e escravidão, ou pela visão inédita do subdesenvolvimento como um resultado histórico-estrutural - e não uma etapa atrasada na linha evolutiva da modernização. Acresce que um fio condutor, que Antonio Candido chamaria de radical, ora mais, ora menos puxado pelos extremos, percorreu essa tradição hoje extinta em sua vertente acadêmica: a passagem traumática em todos os sentidos da Colônia à Nação. Nó a ser desatado pelo processo que Caio Prado chamou de Revolução Brasileira (deixando em suspenso a definição de seu caráter), ou atado de vez. O nó cego da Revolução Burguesa, a reação autocrática permanente mapeada por Florestan. Nessa plataforma e suas ramificações posteriores, o MST assentou seu enfoque do problema da terra e seu projeto nacional. Mesmo defasada nos seus termos, trata-se de uma confluência entre formas originais de pensamento que se cristalizaram - refletindo sobre a diferença brasileira no âmbito da expansão histórica do capitalismo do centro para a periferia por ele mesmo criada, pois não existe periferia em si - e uma prática política de ruptura e invenção social tocada pela iniciativa dos espoliados da terra, que não estava no programa de ninguém. Algo verdadeiramente notável.

A - O senhor poderia explicar esse momento em que o MST vira uma instituição e a USP passa de instituição a organização?

PA - A USP começou a perder o seu perfil humboldtiano de universidade mal iniciado o período de transição nos anos 80. A ditadura massificara, pensando demagogicamente resolver o problema do chamado excedente. A esquerda achava que bastava democratizar o poder acadêmico exercido sobre aquela nova massa estudantil e docente. O contemporâneo colapso do desenvolvimento precipitou o longo processo de sucateamento e confinamento da vida acadêmica ao salve-se quem puder da administração da escassez. Como as demais instituições do welfare periférico, a USP foi alvo de todos os ajustes e reengenharias que se sabe. Fragmentou-se num arquipélago de institutos e fundações de apoio, povoados por estudantes-usuá rios e pesquisadores- investidores (no seu próprio capital humano). Como no mundo do trabalho, corroeu-se igualmente o caráter, na acepção sociológica que lhe deu Richard Sennet. Não estou moralizando, simplesmente notando que a idéia de carreira, sem carreirismo, deixou de fazer sentido. O ato docente, fundado numa vida dedicada à pesquisa, do berço acadêmico à vida ativa depois de uma aposentadoria digna, caiu no vazio institucional que se instalava. Sem o docente formador que inspira e enriquece os alunos - muito menos que o seu currículo, para o qual de fato passou a trabalhar como um condenado - não se pode mais falar da universidade como uma escola. Ponto final. O MST nasceu naquele exato momento, só que dobrou tal esquina da nossa história recente no sentido contrário, politizando o mais extremo desvalimento. Sem terra, e tudo o mais que se refere aos mínimos de uma vida civilizada, foi reinventando um novo sujeito, que acabou recriando também a Escola. Assim, com maiúscula, pois sua crença - que eu chamaria de socialista - no poder da instrução na transformação do povo trabalhador, levou-o a instituir praticamente do nada, um dos raros ambientes que ainda podemos chamar de "formadores" em nosso País e na América Latina. Formador ou humanizador, como se queira. É preciso lembrar que no centro do MST está o problema da produção. De alimentos, para ser mais específico nesta hora de crise alimentar global. Refiro-me, portanto, à preservação e ampliação de um ambiente humanizador, conjugado ao meio hostil do trabalho penoso e acossado por toda sorte de coerções. Da violência proprietária ao descaso dos poderes constituídos, desde sempre para facilitar a esfola costumeira dos primeiros. Falo do trabalhador que se instrui e cultiva enquanto agente de sua própria emancipação, que se humaniza e forma, escapando da condição de máquina de produzir mais valia neste grande moinho de gastar gente, como Darcy Ribeiro definiu o Brasil.

A - A Universidade Pública tem o dever de abrir as portas para os movimentos sociais e tomar como suas as demandas destes? Como o senhor avalia o envolvimento das universidades brasileiras, especialmente as públicas, com os movimentos sociais?

PA - Aqui entramos em campo minado. Até agora nosso foco era uma Faculdade muito particular no sistema USP, cujo surgimento, aliás, se deu à revelia das grandes máquinas de diplomação da elite branca local (Medicina, Direito e Engenharia). Um sistema capitalista de profissões baseado na separação hierárquica entre concepção e execução. Para os peões, a escola técnica e olhe lá, nos velhos tempos fordistas. Imaginemos a situação surreal: um movimento social bate à porta da Escola Politécnica! De duas uma. Ou é a revolução que já ultrapassou todas as barreiras prévias àquele acesso privilegiado (e irá demonstrar na prática o que é uma verdadeira sociedade do conhecimento) , ou será que ninguém se deu conta do que significa ingressar num sistema destinado a subordinar outras formas de trabalho? Neste último caso, descontada a inverossimilhanç a do exemplo, o remoto sucesso da iniciativa apenas denunciaria a pulverização do referido movimento num leque de ações afirmativas individuais. Quanto aos convênios do MST com as universidades - para ir direto ao ponto -, correm por outra faixa que se poderia chamar de capacitação técnica estratégica. Como a direita não se engana a esse respeito, vive à beira de um ataque de nervos e sempre que pode extrapola. Seu fundamento material é o conhecimento socialmente produzido, porém confinado e esterilizado. Dito isto, a verdade verdadeira é que a esquerda acadêmica não sabe o que fazer, salvo a monótona reafirmação de uma universidade que nunca foi social.

A - Seria possível traçar um paralelo entre o magistério da filosofia há 50 anos e hoje? O senhor acredita que com a volta da obrigatoriedade do ensino de filosofia e sociologia no Ensino Médio, o professor dessas disciplinas pode voltar a ser valorizado?

PA - Há meio século, o País não era menos socialmente horrendo. Mas o vínculo recente entre uma Faculdade de Filosofia como a nossa e os quadros do magistério secundário de cujo aprimoramento em princípio se encarregaria, é pelo menos, uma pequena revolução cultural em andamento, nos limites do possível (permitido pelo maior ou menor esclarecimento da própria burguesia). De resto, ela mesma enviava seus filhos de preferência àqueles ginásios e liceus que, embora públicos, eram seus mesmos ou compartilhados com as camadas médias da população. Classes das quais provinham os professores que chegaram a gozar de reconhecimento social numa escala impensável nos dias de hoje. Depois deste breve fastígio de classe, veio aos poucos o que se sabe: com a chegada da massa empobrecida, o aviltamento profissional e uma dramática desautorização da condição docente. Não seria a filosofia que faria o "dia nascer feliz" no ensino médio brasileiro. Quem viu o filme, sabe que não há indicador que resista àquelas imagens de frustração e desengano. Que, aliás, precisam ser revistas na sua verdadeira chave, como vem fazendo, por exemplo, a socióloga Regina Magalhães de Souza. A seu ver, a escola à deriva, sem projeto educativo, objetivos ou conteúdos, não está em crise terminal, mas em perfeita sintonia com as atuais demandas de socialização dos jovens através do "aprendizado" de práticas de negociação com os novos fatos da vida. Assim, o que se "aprende" a valorizar num centro emissor de certificados - sem maior significado que o de validar a seleção já consumada dos perdedores - é o saber movimentar-se num mundo de coisas novas que, no entanto, são apenas as já existentes. No limite, a consagração de uma viração presente que vem a ser o próprio futuro que já chegou. A relação meramente instrumental com uma escola, que nada mais é do que um conjunto vazio de normas e regulamentos, um marco de sucesso adaptativo, numa sociedade em que o horizonte de expectativas encolheu drasticamente.

A - Por que não há mais base social para que interpretações como as de Florestan Fernandez, Celso Furtado, Caio Prado Júnior e Raimundo Faoro voltem a acontecer?

PA - O mesmo horizonte anulado de expectativas rebaixadas (responsável pelo sucesso de adaptação passiva, que vem a ser as mil e uma manobras a que se resume a perene viração do "aprender a aprender") em que se viu engessada a imaginação do povo miúdo das escolas brasileiras, também roubou o fôlego dos herdeiros de uma tradição crítica que não se esgotou por escassez de talentos. Longe disto. Porque haveria de ser diferente, se o chão social é comum? Não basta dominar o seu ofício - no caso, a tradição crítica herdada, virada e revirada até o osso, a ponto de se tornar um formalismo a mais - numa sociedade decididamente unidimensional. Foi-se o tempo que tínhamos encontro marcado com o Futuro, com a Modernidade, ou o que fosse, contanto que assinalasse a presença tangível da História correndo a nosso favor. Até mesmo o golpe de 1964 era a contra-prova de que uma bifurcação real em nosso tempo histórico se apresentara, tanto é que uma violência política inaudita foi então deflagrada, e até hoje corre solta, para erradicar de vez a alternativa. O meio século de vigência daquelas grandes interpretações mobilizadoras distinguiu-se por uma espécie singular de processo mental. O que Antonio Candido chamou certa vez de "consciência dramática do subdesenvolvimento" , um tempo em que o País ingressou na dinâmica de uma conjuntura longa, porém agônica, alimentada pela experiência catastrófica da miséria pasmosa das populações, pedindo desfecho superador, justamente da condição subdesenvolvida. Hoje vivemos em tempo morto. Em linguagem teatral, um tempo pós-dramático veio preencher o vazio deixado pela épica das massas em movimento, pelo menos até o fim dos anos 80. Por favor: nada a ver com o desalento confortável de quem continua se dando bem num país em que "tudo fracassou", nas palavras do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (não por acaso um elo nada desprezível daquela mesma tradição crítica, cuja dimensão afirmativa afinal aflorou plenamente nos anos 90). Aliás, seria bom não esquecer, neste momento de transição, quem sabe para uma outra teoria crítica impulsionada pela nova urgência da hora, que no avesso do ciclo intelectual anterior - ou melhor, no direito -, o empenho em romper com as raízes do "atraso" mal se distinguia da ambição de uma contra-elite em emparelhar com os padrões metropolitanos de progresso. Por isso mesmo, escapavam ilesos da crítica, para não falar de uma possível rejeição. Cinismo dos vencedores à parte, o fato é que o horizonte do Brasil encurtou. Resta saber que rumo político dar à interpretação deste fenômeno inédito. O deboche da classe dominante e de seus representantes intelectuais consiste em arrematar. Nossas ambições são medíocres porque se encontram plenamente realizadas com a atual reconversão primário-exportadora financeirizada. A resposta de esquerda deve pelo menos partir do reconhecimento de que um tal encolhimento de horizontes pode muito bem significar um tempo social em que, pela primeira vez, as expectativas não só não ultrapassam, mas coincidem inteiramente com a experiência presente. Isto significa que a conjuntura tornou-se literalmente emergencial, como se a sociedade se confundisse com uma descomunal urgência médica. Para os mandantes de turno, a saída é puramente gestionária e combina programas sociais seletivos com escalada penal. Quanto à esquerda, se deseja mesmo se reinventar, precisa aprender a intervir numa coisa jamais vista, uma conjuntura perene.



A entrevista foi realizada e veiculada pelo ADverso, publicação da Associação dos Docentes da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Retorno - Projeto Cine Social

A Programação de Retorno do Projeto CineSocial conta com uma parceria do NUDOC e do Pólo Multimídia da UFPB, que estará exibindo documentários vencedores do Projeto DocTV Brasil, um programa de fomentação AudioVisual do Ministério da Cultura.

Exibido às quintas-feiras, as 12h03, na Sala 402 do CCHLA.



Em Cartaz:


16/10 - CIDADÃO JACARÉ

O homem Manuel Jacaré e sua luta, com uma pergunta: o país precisa de um jangadeiro-herói ou de um jangadeiro-cidadão?

Direção: Firmino Holanda e Petrus Cariry - CE



23/10 - ELEVADO 3.5

Elevado 3.5 é um filme sobre o mundo de pessoas que se cruzam ao longo dos 3.5 Km do Minhocão, via expressa na região de São Paulo, durante a ditadura militar. Do nível da rua ao último andar, o espectador é conduzido por diferentes pontos de vista.

Direção: João Socré, Maíra Santi Bühler e Paulo Pastorelo - SP



30/10 - PÉRICLES LEAL, O CRIADOR ESQUECIDO

A obra de Péricles Leal, pioneiro da televisão brasileira, a partir do depoimento dos artistas e intelectuais que com ele conviveram.

Direção: João de Lima e Manuel Clemente - PB



06/11 - ACIDENTE

Um poema composto por 20 nomes de cidades mineiras é o corpo deste filme que se abre ao imprevisto e ao improviso.

Direção: Cao Guimarães e Pablo Lobato - MG



13/11 - ENSOLARADO BYTE

O intercâmbio entre a cena musical do Recife e as teconlogias digitais, a partir de três artistas: Neílton (Devotos), DJ Dolores e o Coletivo Re:Combo

Direção: Maurício Corrêa - PE




20/11 - HISTÓRIA BRASILEIRA DA INFÂMIA - PARTE UM

Antropofagia e conspiração na morte do 1º Bispo do Brasil, Dom Pedro Fernandes Sardinha, seus mitos e conseqüências.

Direção: Werner Salles Bagetti - AL

domingo, 12 de outubro de 2008

O impensável aconteceu

A palavra não aparece na mídia norte-americana, mas é disso que se trata: nacionalização. Perante as falências ocorridas, anunciadas ou iminentes de importantes bancos de investimento, das duas maiores sociedades hipotecárias do país e da maior seguradora do mundo, o governo dos EUA decidiu assumir o controle direto de uma parte importante do sistema financeiro.

A medida não é inédita pois o Governo interveio em outros momentos de crise profunda: em 1792 (no mandato do primeiro presidente do país), em 1907 (neste caso, o papel central na resolução da crise coube ao grande banco de então, J.P. Morgan, hoje, Morgan Stanley, também em risco), em 1929 (a grande depressão que durou até à Segunda Guerra Mundial: em 1933, 1000 norteamericanos por dia perdiam as suas casas a favor dos bancos) e 1985 (a crise das sociedades de poupança).

O que é novo na intervenção em curso é a sua magnitude e o fato de ela ocorrer ao fim de trinta anos de evangelização neoliberal conduzida com mão de ferro a nível global pelos EUA e pelas instituições financeiras por eles controladas, FMI e o Banco Mundial: mercados livres e, porque livres, eficientes; privatizações; desregulamentaçã o; Estado fora da economia porque inerentemente corrupto e ineficiente; eliminação de restrições à acumulação de riqueza e à correspondente produção de miséria social.

Foi com estas receitas que se “resolveram” as crises financeiras da América Latina e da Ásia e que se impuseram ajustamentos estruturais em dezenas de países. Foi também com elas que milhões de pessoas foram lançadas no desemprego, perderam as suas terras ou os seus direitos laborais, tiveram de emigrar.

À luz disto, o impensável aconteceu: o Estado deixou de ser o problema para voltar a ser a solução; cada país tem o direito de fazer prevalecer o que entende ser o interesse nacional contra os ditames da globalização; o mercado não é, por si, racional e eficiente, apenas sabe racionalizar a sua irracionalidade e ineficiência enquanto estas não atingirem o nível de auto-destruiçã o; o capital tem sempre o Estado à sua disposição e, consoante os ciclos, ora por via da regulação ora por via da desregulação. Esta não é a crise final do capitalismo e, mesmo se fosse, talvez a esquerda não soubesse o que fazer dela, tão generalizada foi a sua conversão ao evangelho neoliberal.

Muito continuará como dantes: o espiríto individualista, egoísta e anti-social que anima o capitalismo; o fato de que a fatura das crises é sempre paga por quem nada contribuiu para elas, a esmagadora maioria dos cidadãos, já que é com seu dinheiro que o Estado intervém e muitos perdem o emprego, a casa e a pensão.

Mas muito mais mudará. Primeiro, o declínio dos EUA como potência mundial atinge um novo patamar. Este país acaba de ser vítima das armas de destruição financeira massiça com que agrediu tantos países nas últimas décadas e a decisão “soberana” de se defender foi afinal induzida pela pressão dos seus credores estrangeiros (sobretudo chineses) que ameaçaram com uma fuga que seria devastadora para o actual american way of life.

Segundo, o FMI e o Banco Mundial deixaram de ter qualquer autoridade para impor as suas receitas, pois sempre usaram como bitola uma economia que se revela agora fantasma. A hipocrisia dos critérios duplos (uns válidos para os países do Norte global e outros válidos para os países do Sul global) está exposta com uma crueza chocante. Daqui em diante, a primazia do interesse nacional pode ditar, não só proteção e regulação específicas, como também taxas de juro subsidiadas para apoiar indústrias em perigo (como as que o Congresso dos EUA acaba de aprovar para o setor automóvel).

Não estamos perante uma desglobalizaçã o mas estamos certamente perante uma nova globalização pós-neoliberal internamente muito mais diversificada. Emergem novos regionalismos, já hoje presentes na África e na Ásia mas sobretudo importantes na América Latina, como o agora consolidado com a criação da União das Nações Sul-Americanas e do Banco do Sul. Por sua vez, a União Européia, o regionalismo mais avançado, terá que mudar o curso neoliberal da atual Comissão sob pena de ter o mesmo destino dos EUA.

Terceiro, as políticas de privatização da segurança social ficam desacreditadas: é eticamente monstruoso que seja possível acumular lucros fabulosos com o dinheiro de milhões trabalhadores humildes e abandonar estes à sua sorte quando a especulação dá errado. Quarto, o Estado que regressa como solução é o mesmo Estado que foi moral e institucionalmente destruído pelo neoliberalismo, o qual tudo fez para que sua profecia se cumprisse: transformar o Estado num antro de corrupção.

Isto significa que se o Estado não for profundamente reformado e democratizado em breve será, agora sim, um problema sem solução. Quinto, as mudanças na globalização hegemônica vão provocar mudanças na globalização dos movimentos sociais que vão certamente se refletir no Fórum Social Mundial: a nova centralidade das lutas nacionais e regionais; as relações com Estados e partidos progressistas e as lutas pela refundação democrática do Estado; contradições entre classes nacionais e transnacionais e as políticas de alianças.




Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).